Eleições e paternalismo

Postado no dia: 3 de September de 2010 por Rafael De la Torre Oliveira em Colunistas, Política, Rafael de La Torre Oliveira

Por: Rafael De la Torre Oliveira

Tenho como experiência ser mesário e neste ano fui novamente ‘convidado’ para fazer parte e ajudar nas eleições. Aparentemente, pela minha percepção, o fato de ser mesário pouco influencia na vida das pessoas, não se ganha notoriedade sendo mesário, pelo contrário, corre-se o risco de ser vitima de chacotas. Chacotas advindas de quem? Dos mesmos que irão fazer o uso do direito de votar e eleger o próximo candidato que represente os desejos e necessidades pessoais.

O pleito eleitoral está envolto de paternalismo, e o contraditório é que apenas pessoas consideradas adultas podem fazer parte, pois, segundo a Lei, se atinge a maturidade com certa idade biológica. Bem, pelas contribuições da psicanálise, são poucos os casos que a idade biológica acompanha a idade mental, por este prisma, criamos uma imagem de adulto, um ideal.

E o que isto tem a ver com o voto? Sabendo que nossas ações de adulto na verdade são comandadas por fantasias de nossa infância, assim sendo, nossa ‘’adultesa’’ é governada por nossa infância, nota-se como é o processo eleitoral. Primeiro, o pai (Estado) lhe castiga, pois terá de trabalhar em dia de eleição, dia em que o papai não poderá trabalhar. Mas, tem-se um ganho. Poderá o filho que trabalha ter folga o que da a idéia que o esforço valeu, pois teve uma recompensa.

O que se cria com isso? Um eleitorado dominado pelas relações infantis de desejo e interesse, perda para ganho. Trata-se as eleições visando apenas a nossa necessidade e desejo, mas isto já é artimanha antiga das relações de publicidade e marketing. Eles, melhor do que ninguém, sabem que na verdade os adultos, usam trajes de adultos, então enchem as lojas de produtos, pares de sapatos, corpos esculturais, carros, celulares e qual o comportamento? Tendemos a pensar que estabilidade econômica é sinal de gente adulta, e o que consumimos (e fazemos com o nosso corpo) nos diz se atingimos ou não a maturidade. Observe como uma criança se comporta quando quer algo, e se policie em seus movimentos de querer, ficará surpreso com a semelhança no comportamento.

Com o paternalismo permeando as relações, tem-se a idéia de voto que é a seguinte: ‘’ Voto neste, ou naquele?’’. Quando, se atinge uma maturidade adulta, a pergunta seria: ‘’ O que me leva a votar?’’. Nas eleições (e nas demais relações atuais), usa-se um truque muito comum, que todos que já foram pais e mães sabem. É a idéia de falsa escolha. Você diz para a criança: ‘’ Quer mamão ou maçã? ‘’ E a criança escolhe maçã ou mamão, é uma falsa escolha, pois a criança tem apenas estas opções, mas ela pensa que está escolhendo, pois uma responsabilidade está sendo ofertada. Movidos pelas necessidades infantis pensamos que ganhar responsabilidade é o mesmo que conquistar responsabilidade.

A pergunta deveria ser: ‘’ O que você quer?’’. De repente, a criança falaria pastel.

Mas, quem disse que criança sabe o que quer?

Boa sorte nestas eleições, pois sucesso é para adultos.

Imagem: Retirada do Blog: http://camuflados.blogs.sapo.pt

  1. Rafael Lott says:

    Não quero maçã nem mamão… quero goiaba!
    O duro é que com tantos laranjas a tendência é dar abacaxí.
    Sorte! Realmente iremos precisar…

    Muito bom…

  2. Rachel says:

    Adorei!
    Vamos votar em um candidato que represente os desejos e necessidades pessoais…
    Tem pastel aí?

  3. Ulisses says:

    Muito boa analogia.
    Sem mais delongas…
    Pé na porta!

  4. Alexandre says:

    Muito bom Rafa! Esta analogia se estende para todas relações sociais em que estamos inseridos. Somos “amestrados” desde a infância. O pior é que pensamos sermos livres para escolher isso ou aquilo! Aliás, será que existe mesmo Democracia? Sabemos bem quem “controla” o mundo: o velho sistema capitalista. Grandes empresas multinacionais e corporações geram a todo instante novas necessidades para os seres humanos. Cria-se a ilusão de avanço tecnológico e progresso. O consumismo impera e desde a infância somos bombardeados com falsas necessidades: crescemos e estudamos para a sociedade de consumo prosperar. Tudo se resume em sermos aptos ou não para o “front capitalista”. Se você não escolhe mamão ou maça será renegado e excluído do sistema! Eles dizem: Bananas para os subversivos! Nós dizemos: Preferimos as bananas!

Você deve se logar para comentar.